O esforço árduo do espírito,
Em contraste com a lassidão dos membros
Expostos ao sol do meio-dia,
Dá início a um incómodo respirar
Descontrolado
E ativa o alarme sinoidal que nos obriga
A levantar e a procurar desativar
A ansiosa busca de respostas
(Para questões que nos vão parecendo vitais).
Bruscamente salto, como a rã,
E avanço três pés quatro pés
Para uma zona húmida
Onde começam a surgir os primeiros caules
Por onde vou subir, como a lagarta,
Para ver onde nasce a luz
Que me envia os ténues raios
Que me orientaram até aqui.
Incaracterístico
Debruça-se no monte alvo e frio
E deixa-se ir pela neve
Desviando-se dos pequenos arbustos
E dos ursos pardos
Que procuram acertar-lhe com as garras
Quando passa.
Incaracterístico
Ronda os punhais
Escolhe um pesado e tosco de cabo largo.
Espeta-o profundamente na areia
E mantém-no quieto
À espera que o sangue jorre.
Risos concretos ignoram as pedras do sal
Que se atira como cristais
Contra o vento
E desfolha quase todas as plantas
Do jardim desprotegido.
Atravessam-no pássaros rasantes
A guinchar alarmados.
O papagaio verboso
voa de árvore em árvore
na sua floresta tropical.
Voa de bico empinado
orgulhoso das cores
que vê nas penas vaidosas
e decide ir exibir-se para a cidade.
Esqueceu-se porém
de que as cores variegavas azul verde e amarelo
não passam de reflexos
da vegetação luxuriante da floresta
em que vivia.
Rutilam inertes os teus sonhos
invadindo os meus
como vagas.
Cavalgas as estepes imensas
contra os ventos austrais
e suspiras intrépida
ultrapassando as fragas.
Sibilas, mulher,
pestanejando muito
para sacudir as areias que voam
a anunciar a chegada das pragas.
Rosnam os deuses
a comandar o teu difícil destino.
Dominemos a sereia rígida
que ondula em sobressalto
lívida passa por portos inseguros
à procura de um espelho para se ver
porque lhe disseram que era pouco feminina.
A mulher incerta
prefere a certeza de uma relação incerta
que a satisfaz
por não ter saturação
à incerteza de uma relação certa
exposta ao desgaste
do excesso de tempo passado juntos
e de compromissos inescapáveis.
Rituais habituais petrificam as faces indecisas dos reis. Coroam-se matinalmente para sentirem a aura que desce do círculo valioso a dominar quem os vê: espalham-se pelo chão os mantos esvoaçando deles as graças que acariciarão os corações dos sentinelas: um deles matará os reis durante um sonho e acordará sobressaltado sem saber se o fez realmente.
Renova o sangue a vida que se ensina a si própria a pontuar os dias. Descem pelas colinas do Olimpo, desfilando, os deuses, que não se contentam em saber que o são e se querem exibir aos mortais impondo-lhes imagens vagas de superioridade que nem sempre é reconhecida.