Onde esconde o mar
a súbita sensação
do mergulho adiado
e abre o mistério da calada luz?
Dificilmente se resiste à revelação.
À virtude dos segredos segue-se o defeito
um a um desiludem
e o peito fecha-se.
Mas quando novos mistérios
surgem da sombra
insistimos e perseguimo-los
conscientes de que só é verdadeiramente misterioso
o que continua a sê-lo
mesmo depois de revelado.
domingo, 30 de janeiro de 2011
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Agora beijo-te.
Agora beijo-te.
Rodeias-me com as mãos
à procura da pele, da nuca, do pescoço, do peito.
Provavelmente sempre foi assim
e sempre será
num movimento repetido
ao longo dos anos.
Parece contudo que nunca
como agora
foi tão superior, tão elevado, tão sentido.
O corpo não tem memória
nele tudo é sempre novo.
Rodeias-me com as mãos
à procura da pele, da nuca, do pescoço, do peito.
Provavelmente sempre foi assim
e sempre será
num movimento repetido
ao longo dos anos.
Parece contudo que nunca
como agora
foi tão superior, tão elevado, tão sentido.
O corpo não tem memória
nele tudo é sempre novo.
sábado, 22 de janeiro de 2011
Curta Distância
Passam os dias
e pouco me vou lembrando de ti.
Ignoramo-nos.
À distância nada se passa
continuas inacessível
não me é permitido interessares-me
e não te procuro
como tu não me procuras.
Por vezes contudo
encontramo-nos
passamos perto por acaso
paramos um em frente do outro
e conversamos educadamente.
Acontece então que
quando respiras
o fazes muito profundamente.
Percebo porquê quando procuras os meus olhos
no final das frases
e eles ali estão ávidos à espera dos teus.
A tão curta distância
atrais-me tanto
que dificilmente controlo a vontade
de respirar como tu respiras.
As palavras são apenas o suporte dos olhares
meu e teu
através dos quais
corre uma onda fina muito fina
de agradável perturbação.
E em cada frase a onda vai do
meu ao teu olhar
e volta e vai
de novo, tão forte
que se nos aproximássemos mais…
e pouco me vou lembrando de ti.
Ignoramo-nos.
À distância nada se passa
continuas inacessível
não me é permitido interessares-me
e não te procuro
como tu não me procuras.
Por vezes contudo
encontramo-nos
passamos perto por acaso
paramos um em frente do outro
e conversamos educadamente.
Acontece então que
quando respiras
o fazes muito profundamente.
Percebo porquê quando procuras os meus olhos
no final das frases
e eles ali estão ávidos à espera dos teus.
A tão curta distância
atrais-me tanto
que dificilmente controlo a vontade
de respirar como tu respiras.
As palavras são apenas o suporte dos olhares
meu e teu
através dos quais
corre uma onda fina muito fina
de agradável perturbação.
E em cada frase a onda vai do
meu ao teu olhar
e volta e vai
de novo, tão forte
que se nos aproximássemos mais…
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Os Álamos
Conta as gotas que pingam dos álamos.
Como lâminas são os altos álamos.
Lâminas fixas que não te podem ferir.
Conta as gotas que deles caem:
é do mais alto que menos caem.
Deixa-te molhar e humedecida
encosta-te a eles sem receio.
Eles perguntar-te-ão:
- Porque choras, pequeno abeto?
Tu confessarás:
- Choro porque não sei onde está o que desejo.
Ouvirás então:
- Não corras atrás do que não foge
nem fiques imóvel à espera de alcançar o que corre.
Tenta correr atrás dos álamos.
Verás que foi do mar que surgiram
e é por eles, pelos seus troncos,
que sobem as ondas que desejas.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Rota da Seda
És a minha rota da seda
os entroncamentos e as bifurcações
as estepes mongóis
e as dunas móveis e instáveis
do deserto de Taklamakan.
Chego sempre alegre.
Pedes-me especiarias, diamantes
e outras pedras preciosas,
pérolas e corais, cavalos,
tapetes, vidros
e óleos essenciais.
E eu trago-te tudo porque em ti
está a seda
desde o momento em que parto
até ao instante da chegada.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Esquiva
No início, como é lógico
considerei todos os indícios
o teu silêncio era evidente
e sorrias sem convicção
a derreter esquiva
na neve.
Alguns dias depois
concluída a metamorfose
disseste apenas duas palavras:
incessantemente repetidamente.
Nos últimos dias,
já entravas na água
sem medo, embora emocionada,
e já era difícil calares-te.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Pirilampos
Os pirilampos que no vale
dão beijos de luz
breves tímidos zunem
frenéticos cada vez mais
frenéticos
quanto mais beijos dão
maior o prazer e a emoção
mais por eles corre
a corrente eléctrica e magnética.
É por isto que não se dão bem com o frio:
gostam mais do choque do que do arrepio.
Geometria
Picante é a história
da sua geometria.
Tal como a violeta,
recusa evidenciar oscilações
e discreta, espera
(por corações menos áridos).
Entretanto,
rectângulos férteis irão surgindo nos jardins
dos anos que passam
e neles tentarão acertar,
divertidíssimas,
ela e as rosas
com os seus picos.
sábado, 8 de janeiro de 2011
Um Triângulo que Avança
Um triângulo que plana
avança pelo céu
e deixa um rasto perfumado
rectilíneo:
uma linha perfeita onde
com cuidado
vou escrevendo este poema.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Femininas São as Gazelas
Um dia, presumida,
confrontar-te-ei com as imagens
que dizes que não te assustam.
Serei feroz como um tigre
e cruel como o longo e largo rio
que transborda, hoje, aqui.
Lutarás inutilmente para te libertares da minha visão dura.
Serei muito hábil.
Serei a mais temível sombra chinesa,
a mais falsa figura.
Hás-de vir então receosa
trazer-me pão de trigo
e preservativos de menta
e eu olhando para ti com agrado
com o meu superior ar de raposa
dir-te-ei sem hesitar:
femininas são as gazelas
e eu não corro atrás delas.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Vestido Mariposa
Despes impulsiva
o vestido
mariposa
e convertes o jardim em delícias:
repartes comigo o néctar das flores
mas tu ficas com mais
e eu também.
Depois comemos
animados
e tudo fica mais humano
mais feminino para mim
mais masculino para ti.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Receita
Liquefaz-se a dor em lágrimas E a alma cresce E espalha-se de novo pelo corpo. 16 de abril de 2011
-
No início, como é lógico considerei todos os indícios o teu silêncio era evidente e sorrias sem convicção a derreter esquiva na neve. Algun...
-
Conduzo pelas dunas do deserto Serei uma miragem? (Quem me vê prefere o que pensa ver em mim ou o que vê realmente quando observa melh...
-
Passam os dias e pouco me vou lembrando de ti. Ignoramo-nos. À distância nada se passa continuas inacessível não me é permitido inter...