terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Novelos de espuma

Entre a bruma e o mar
procuras o melhor caminho
saltas entre os novelos de espuma
e percorres ideias e decisões
registadas uma a uma.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Silêncios

Basta levar os silêncios, caminhar para espaços abertos naturais e refletir.
Sorriem levianamente e inclinam-se os gladíolos mais interessantes quando por eles passamos calados.
Aos outros, os insípidos, há que temperá-los espiritualmente com palavras cuidadas, no início, e jorrantes como rosas aos gritos catárticos, no fim ou quando a vontade o dita.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Inesquecíveis Criaturas

Pardas, vorazes e tão sensíveis
criaturas inesquecíveis ardentes
(mesmo no escuro)
que se irritam se olhadas de soslaio
enfeitam vasos rasos de água
onde vão escondendo as lágrimas.

É sempre com elas
que florescem os ruídos
que começam
pouco a pouco
a enganar o silêncio.

Que Vida Existe (no Moinho das Freiras)

Que vida existe
onde não há vida
humana para além de mim.
Há a água, o Sol, as formigas gigantes
e os peixes invisíveis, os lagartos e as cobras móveis
e eu sozinho, quieto no meio do vale arrebatador
na margem do quilómetro de rio dormente
que reflecte a abóbada celeste azul
formando uma paisagem
tão serena que quase
corta a respiração.

Enquanto os Dias Passam

Enquanto os dias passam
amargos costuma senti-los
sentado em brasas
apagadas.

O calor extinguiu-se há muito,
mas a impaciente fervura do lume,
que lhe ficou na memória,
não o deixa sentir-se em paz:

ferve sempre e sempre muito,
a todo o momento, por dentro,
sentado em brasas,
apagado.

Os Aromas

São os aromas
dos que se querem
em segredo ou não
mais que amigos
menos que amantes
ou vice-versa
(isso não interessa).

É assim rapariga
que a vida flui.

Hoje

Hoje dedico o meu olhar
à incapacidade de suster
lentamente um equilíbrio
na corda esticada
entre o meu coração e o teu
Tremo,
só de pensar caminhar nela,
mas não me atrevo a não avançar.

É o corpo ou a sua sombra?

É o corpo ou a sua sombra
que nos atrai e agita
os sentidos?
Diz-me!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Nuvens

Nuvens correm baixas.
Atiram-se divertidas
contra elas andorinhas
perfurando-as
e saem do lado oposto
convencidas de que nada acontece
naquela investida.
Enganam-se:
quando saem
perdem por completo o sentido de orientação
e deixam de saber
para que lado fica a Primavera.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pelo deserto

Conduzo pelas dunas do deserto
Serei uma miragem?

(Quem me vê prefere
o que pensa ver em mim
ou o que vê realmente
quando observa melhor?)

Respondem-lhe os lábios

Respondem-lhe os lábios mais húmidos
da plateia
os que brilham
durante os planos mais nítidos.
Serão os lábios que procura?

Onde estão os primeiros impulsos?

Onde estão os primeiros impulsos?
Para onde se dirigem os últimos olhares?
Porque não começa o jogo?
Porque está à espera tão quieto, tão calado?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Estendido Rigoroso

Estendido rigoroso
o horizonte pelas rochas
passa o Inverno morno ou não
raso de água o tronco
e experimenta vaidoso minissaias
coloridas escorregadias.

Entusiasmado com as tuas pernas
a ir à fonte granítica e fria
finge que bate as asas
e conta as nuvens que passam
ri bastante e atiça as brasas
que transbordam e apagam
e acendem as tuas nádegas
cada dia mais
apetitosas e sensuais.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Qual é o anseio mais eficaz?

Qual é o anseio mais eficaz?

É o que deslumbra a vertigem
e verticaliza o ser?

O que rumina
a vagem repleta
e cospe, um a um,
os grãos para o ar
para ver se eles pairam?

Ou o que faz mover os moinhos
e gera?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Encantos e Pasmos

Poderia dizer-te
que, no percurso aparentemente infindo
que se inicia em ti e me dá a volta,
e regressa a ti,
sem me sair do pensamento,
encontro tão frequentes
forças moventes,
encantos e pasmos.

Nesses momentos,
de boca e olhos muito abertos
absorvo-te e depois
revelo-te,
ocultamente,
só para mim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Efeito Borboleta

Agora, elevo-me
com muito cuidado,
contigo nos braços,
para não te deixar cair.
Move-me o desejo
e as asas levam-me até à tua pele.
Aproximamos os lábios
e enquanto dos teus
sai um não quase sim
dos meus ouves:
– Segura-te que vamos voar.

Voamos até à Virgen de Los Peligros
e o curso natural das coisas é influenciado:
o meu bater de asas
provoca um ciclone
do outro lado do mundo
e eu mesmo por baixo da placa da calle
desenho a tua cara com dois pequenos cornos
a dançar no El Sol
e a sorrir diabolicamente.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Grande, Intenso

Grande, intenso, de repente,
pára com um rápido
surpreendente grito.
Nada do que vê
o faz mover.
Nada do que move
é o que quer ver activo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Hoje quero-te terna!

Hoje quero-te terna!
Quero-te doçura, solícita,
estável, certa.
Abraça-me!!
Aproxima os lábios dos meus
e não os afastes no momento
em que eu desejar beijar-te.
Quero-te fácil, dá-me tréguas,
não me faças perseguir-te.

domingo, 17 de abril de 2011

Hoje não te quero terna

Hoje não te quero terna!
Quero-te malícia, atrevida,
instável, incerta.
Não me abraces!
Aproxima os lábios dos meus
e afasta-os no momento exacto
em que eu finalmente desejar beijar-te.
Não te quero fácil, dá-me luta,
faz-me perseguir-te.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Louro musculado

Deitado na praia,
um rapaz louro musculado
de nariz e rabo empinado
tem frio e sono
e espreguiça os bícepes,
os peitorais, que se movem
e deslocam ligeiramente,
voltando depois à posição original,
devagar,
como se um pequeno veio de vento passasse por eles.
Quando relaxa
e se prepara para adormecer,
a namorada acaricia-lhe os músculos
embevecida, como se os contasse
um a um
e um pequeno fio de baba
escapa-lhe
pelo canto esquerdo da boca.

sábado, 9 de abril de 2011

Os Galgos

Coragem de ignorar
os falsos galgos
idealmente gregos
submissos
a torcer ondas
de vento que a rua
inundam.

Coragem de ganhar o combate
com os verdadeiros
galgos, os impressionantes
realmente gregos
impossíveis de domar.

(a torcer ondas
de vento que a rua)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Na Pequena Sela

Na pequena sela sentada
vai uma pequena sereia
por fora quieta
por dentro animada!

Na pequena sela dorsal vai
montada uma pequena sereia
por fora mulher
por dentro animal!

Hoje Quero-te Terna

Hoje quero-te terna!
Quero-te doçura, solícita,
estável, certa.
Abraça-me!!
Aproxima os lábios dos meus
e não os afastes no momento
em que eu desejar beijar-te.
Quero-te fácil, dá-me tréguas,
não me faças perseguir-te.
(Porque) São estas hoje as minhas regras.

Hoje Não te Quero Terna

Hoje não te quero terna!
Quero-te malícia, atrevida,
instável, incerta.
Não me abraces!
Aproxima os lábios dos meus
e afasta-os no momento exacto
em que eu finalmente desejar beijar-te.
Não te quero fácil, dá-me luta,
faz-me perseguir-te.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Jens Lekman

A vida é o que
acontece num sopro rítmico
que não fica registado,
apenas se vai ouvindo.
Também a árvore,
quando consente a subida,
diz ao trepador:
Be good!

Em baixo, junto ao tronco,
fica o cão enroscado
a sonhar com assobios que o chamem.



VARIAÇÃO 1

A árvore, quando consente a subida, diz ao trepador: Be good!
Em baixo, junto ao tronco, continua um cão enroscado, a sonhar com assobios que o chamem.

A vida é o que acontece num sopro rítmico que não prevemos, apenas o vamos ouvindo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Figueira da Foz

Percorro as ruas quentes nocturnas
apinhadas de gente habladora e fashion
sempre a sorrir:
procuro em cada cara
o reflexo da tua
ou em cada mão que segura o copo
a mão que me deste a beijar.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vandaliza-me bem

Vandaliza-me bem
rasga os véus com que te cubro
respira ofegante
e dá-me
tâmaras amêndoas amêijoas beringelas
e muitos rebuçados amargos
desembrulhados
com jeito

segunda-feira, 14 de março de 2011

A Saber a Limão

Seremos felizes nem mais
porque tu és felina
e queres dias fenomenais
e eu,
caricato e a saber a limão
vou manter-me bem preso
à árvore
a que tu dizes não!

terça-feira, 8 de março de 2011

Dança

Entre o azul intenso
dança
convidando-nos com o dedo
para dançarmos com ela.

Depois de nos perdermos tantas vezes
nas tempestades de areia
do deserto
sentimos ali que é o ritmo do seu ventre
que nos orienta e embala
em direcção ao rumo certo.

Quando saímos da hipnose
do azul do jardim majorelle
já a dança terminou
e já os dedos descansam
quietos
na pele.

Somos Aparentemente

Somos aparentemente tão diferentes.

Tu és água!
Bebo-te, acalmo a sede e
sabes-me bem!
Não sabes?

Eu sou chocolate branco!
Crio em ti a sede
e derreto-me em ti,
delicioso!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Adstringência

A carne de luz intensa
que ofusca o ferro
procurando o aconchego
no buraco de uma rocha.

Salta e vem ver a luz
que se acende e perdura
quando sopro o teu nome
e te encho o copo.

Deixa-te ofuscar pela intensidade
da minha adstringência suave.

Acabado o vinho, descansa
e recupera, mais uma vez
generoso, o mesmo sabor frutado
e uma nova solidez.

Atordoado pela delicadeza

Atordoado pela delicadeza
do figo, o gaio
desliza levado pelo
vento e pia.

Algumas aves
não conseguem evitar a queda
livre
provocada pela ilusão
da doçura.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Borboleta e o Cedro

– Que bela criatura voa aqui à minha volta! O que és tu?
– Sou uma borboleta.
– Uma borboleta! – disse o cedro. – És tão bonita! Pára e faz-me companhia!
– Não posso, cedro. Tenho de polinizar estes malmequeres todos até ao cair da noite.
– Se ficares conto-te histórias de todos os que já se deliciaram com a minha sombra
e com o orvalho que me escorre da rama.
– Está calor e tenho alguma sede…
– Fica aqui a viver comigo, poliniza-me a mim! E no Inverno, se quiseres, podes subir-me pelo tronco para procurares um ramo onde te abrigues.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Na Tua Pele

Na tua pele, é evidente
o invisível percurso ciciante
traçado pelas minhas unhas afiadas.

Nele podem ouvir-se, subliminares,
entre os teus queixumes prolongados,
as exigências de um toque mais profundo.

Obedeço-te
e as plumas do leque espalham-se,
uma a uma,
pelo lençol.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mudar as Cores

As mariposas nascem com tons menos apelativos do que os das borboletas
e mantêm durante a sua curta vida o desejo de mudar de cores.

Mas o rio mal corre
nele não há rápidos
em que se possam lavar para apagarem as cores primitivas.

Por isso as vemos dissimuladas
a trespassar e a percorrer
em vão
as cores do arco-íris.

Há contudo alguns pintores,
geralmente daltónicos,
que se deixam impressionar pelos seus apelos discretos
e as pintam com cores variadas.

Com elas conseguem então
imitar as borboletas

e até superá-las.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Sal

Sente o sal que te seca e encrespa
a pele antes molhada.
Caminha dormente na areia dura
à beira-mar
desvia-te das ondas
que indolentes te querem lamber os pés
grita e expulsa tudo o que te atormenta
e te impede de respirar
correctamente
e quando te sentires finalmente aliviado
volta e vai para casa.

Mas antes passa pelo jardim
e deixa-te conduzir
por entre as flores
num carro de mão que chie.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Estendida a mão

Estendida a mão
quer-me
e eu acaricio-a
o toque sobe rapidamente
pelo braço pelo sangue
em sentido oposto
e dirige-se veia
até ao coração
pára ali alguns segundos
as tuas maçãs do rosto ficam vermelhas
e dirige-se depois artéria
à boca
onde nasce um sorriso amplo e cúmplice.

Durante esses momentos
o que acontece à nossa volta
não acontece.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Todo o Som que o Invade

Todo o som que o invade
sublime, inexperiente
branco, a excitar-lhe a mente
é apenas uma das variações do silêncio.

Ilude-se com ruídos da vida
de objectos, dos outros, de animais
de florestas-virgens
repletas de casulos, de crisálidas.

Porque ele não sabe,
não canta, não embala,
passa sempre, vai andando,
abre a boca, mas não fala.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tatuagens

Deitados lado a lado
voltados um para o outro
levamos lentamente as pernas
para as barrigas
fazendo deslizar
a pele
pela pele.

As mãos, que estavam
dadas, separam-se agora
e vão fazer tatuagens
invisíveis, mais abaixo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fogo Gélido

Ardem em altas chamas
intocáveis corações rubros
ligados uns aos outros
por invisíveis calafrios.

Contemplamos todos este fogo gélido
com receio
não de que ardam também os nossos corpos
mas de que não estejamos presentes
quando ele nos escolher.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Momentos Escher

Às vezes, nestes momentos Escher
quando penso na teoria do caos
quase desejo que se abra outra sala
com mais escadas
por onde não sei se suba se desça
ao lado das duas salas
que já existem
na casa onde não sei se sou hóspede
ou dono (ninguém sabe).

Se outra sala surgisse
outras mais surgiriam com mais escadas
por onde não sei se subiria se desceria
e deixar-me-ia levar num vórtice louco.

(Sei bem como me hei-de acalmar.)

domingo, 30 de janeiro de 2011

Onde Esconde o Mar

Onde esconde o mar
a súbita sensação
do mergulho adiado
e abre o mistério da calada luz?

Dificilmente se resiste à revelação.
À virtude dos segredos segue-se o defeito
um a um desiludem
e o peito fecha-se.

Mas quando novos mistérios
surgem da sombra
insistimos e perseguimo-los
conscientes de que só é verdadeiramente misterioso
o que continua a sê-lo
mesmo depois de revelado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Agora beijo-te.

Agora beijo-te.
Rodeias-me com as mãos
à procura da pele, da nuca, do pescoço, do peito.
Provavelmente sempre foi assim
e sempre será
num movimento repetido
ao longo dos anos.
Parece contudo que nunca
como agora
foi tão superior, tão elevado, tão sentido.

O corpo não tem memória
nele tudo é sempre novo.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Curta Distância

Passam os dias
e pouco me vou lembrando de ti.

Ignoramo-nos.

À distância nada se passa
continuas inacessível
não me é permitido interessares-me
e não te procuro
como tu não me procuras.

Por vezes contudo
encontramo-nos
passamos perto por acaso
paramos um em frente do outro
e conversamos educadamente.
Acontece então que
quando respiras
o fazes muito profundamente.
Percebo porquê quando procuras os meus olhos
no final das frases
e eles ali estão ávidos à espera dos teus.
A tão curta distância
atrais-me tanto
que dificilmente controlo a vontade
de respirar como tu respiras.
As palavras são apenas o suporte dos olhares
meu e teu
através dos quais
corre uma onda fina muito fina
de agradável perturbação.
E em cada frase a onda vai do
meu ao teu olhar
e volta e vai
de novo, tão forte
que se nos aproximássemos mais…

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os Álamos

Conta as gotas que pingam dos álamos.
Como lâminas são os altos álamos.
Lâminas fixas que não te podem ferir.
Conta as gotas que deles caem:
é do mais alto que menos caem.

Deixa-te molhar e humedecida
encosta-te a eles sem receio.
Eles perguntar-te-ão:
- Porque choras, pequeno abeto?
Tu confessarás:
- Choro porque não sei onde está o que desejo.
Ouvirás então:
- Não corras atrás do que não foge
nem fiques imóvel à espera de alcançar o que corre. 

Tenta correr atrás dos álamos.

Verás que foi do mar que surgiram
e é por eles, pelos seus troncos,
que sobem as ondas que desejas. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Rota da Seda

És a minha rota da seda
os entroncamentos e as bifurcações
as estepes mongóis
e as dunas móveis e instáveis
do deserto de Taklamakan.

Chego sempre alegre.

Pedes-me especiarias, diamantes
e outras pedras preciosas,
pérolas e corais, cavalos,
tapetes, vidros
e óleos essenciais.

E eu trago-te tudo porque em ti
está a seda
desde o momento em que parto
até ao instante da chegada.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Esquiva

No início, como é lógico
considerei todos os indícios
o teu silêncio era evidente
e sorrias sem convicção
a derreter esquiva
na neve.

Alguns dias depois
concluída a metamorfose
disseste apenas duas palavras:
incessantemente repetidamente. 

Nos últimos dias,
já entravas na água
sem medo, embora emocionada,
e já era difícil calares-te.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pirilampos

Os pirilampos que no vale
dão beijos de luz
breves tímidos zunem
frenéticos cada vez mais
frenéticos
quanto mais beijos dão
maior o prazer e a emoção
mais por eles corre
a corrente eléctrica e magnética.

É por isto que não se dão bem com o frio:
gostam mais do choque do que do arrepio.

Geometria

Picante é a história
da sua geometria.

Tal como a violeta,
recusa evidenciar oscilações
e discreta, espera
(por corações menos áridos).

Entretanto,
rectângulos férteis irão surgindo nos jardins
dos anos que passam
e neles tentarão acertar,
divertidíssimas,
ela e as rosas
com os seus picos.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Um Triângulo que Avança


Um triângulo que plana
avança pelo céu
e deixa um rasto perfumado
rectilíneo:
uma linha perfeita onde
com cuidado
vou escrevendo este poema.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Femininas São as Gazelas

Um dia, presumida,
confrontar-te-ei com as imagens
que dizes que não te assustam.

Serei feroz como um tigre
e cruel como o longo e largo rio
que transborda, hoje, aqui. 
Lutarás inutilmente para te libertares da minha visão dura.
Serei muito hábil.
Serei a mais temível sombra chinesa,
a mais falsa figura. 

Hás-de vir então receosa
trazer-me pão de trigo
e preservativos de menta
e eu olhando para ti com agrado
com o meu superior ar de raposa
dir-te-ei sem hesitar:
femininas são as gazelas
e eu não corro atrás delas.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vestido Mariposa

Despes impulsiva
o vestido
mariposa
e convertes o jardim em delícias:
repartes comigo o néctar das flores
mas tu ficas com mais
e eu também.

Depois comemos
animados
e tudo fica mais humano
mais feminino para mim
mais masculino para ti.

Receita

Liquefaz-se a dor em lágrimas E a alma cresce E espalha-se de novo pelo corpo. 16 de abril de 2011